"> Governo reforça caixa com alta no IOF: arrecadação de junho já aponta tendência

 

Opinião - 17/07/2025 - 08:34:21

 

Governo reforça caixa com alta no IOF: arrecadação de junho já aponta tendência

 

Vicente Barone * .

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

Vicente Barone é analista político, editor chefe do Grupo @HORA de Comunicação.

Vicente Barone é analista político, editor chefe do Grupo @HORA de Comunicação.

A arrecadação de impostos em junho de 2025 somou R$ 193,4 bilhões, segundo dados divulgados pela Receita Federal, registrando uma alta real de 4,2% em relação ao mesmo mês do ano passado. O resultado reflete a recuperação gradual da atividade econômica, o avanço na formalização do mercado de trabalho e, principalmente, o reforço das medidas fiscais adotadas pelo governo.

Um dos principais fatores de atenção do mercado neste início de segundo semestre é o decreto presidencial que elevou as alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), cuja validade foi confirmada nesta semana pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

A decisão de Moraes representou um alívio para a equipe econômica, que contava com a arrecadação adicional proveniente do novo IOF para ajudar no equilíbrio das contas públicas em 2025. O governo estima um reforço de cerca de R$ 18 bilhões até dezembro, montante considerado estratégico diante das pressões por gastos sociais e investimentos em infraestrutura.

Impacto imediato nas projeções

Especialistas avaliam que a manutenção do decreto confere previsibilidade à política fiscal. “Essa decisão consolida um colchão de arrecadação que pode fazer diferença na meta fiscal do ano”, afirma Luciana Andrade, economista-chefe da Modal Insights.

Segundo projeções da própria Receita, a arrecadação total de 2025 pode ultrapassar a marca de R$ 2,5 trilhões, superando em mais de R$ 100 bilhões o volume registrado em 2024. A maior parte desse crescimento virá do IOF e de tributos sobre consumo, além do desempenho mais robusto do setor de serviços.

Setores mais afetados

Com o novo decreto, operações de crédito, câmbio e seguros passaram a pagar alíquotas maiores de IOF desde maio. O impacto mais sentido, até agora, está nas operações de pessoas físicas com cartão de crédito internacional, além de empréstimos corporativos de curto prazo.

Representantes do setor financeiro criticam a medida, alegando que ela encarece o custo do crédito e desestimula investimentos. O governo, por outro lado, argumenta que a elevação é temporária e tem como objetivo compensar perdas decorrentes de desonerações em outras áreas.

Olhar político e fiscal

A decisão do STF também foi lida como uma vitória política para o Palácio do Planalto, que enfrenta dificuldades no Congresso para aprovar medidas estruturais. A autorização para manter o decreto fortalece a narrativa de responsabilidade fiscal defendida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Apesar do reforço na arrecadação, analistas alertam para a necessidade de reformas estruturantes, como a regulamentação da reforma tributária aprovada em 2023, que ainda depende de leis complementares.

“O IOF é um imposto que pode ser útil em emergências fiscais, mas não deve ser tratado como solução permanente. A estabilidade virá com um sistema tributário mais eficiente e previsível”, resume o tributarista José Roberto Rangel, da FGV.

E o povo, como fica?

Com o aumento do IOF, quem sente mais rápido no bolso são os consumidores de menor renda, especialmente aqueles que dependem de crédito para compras emergenciais ou parcelam contas no cartão.

O IOF é embutido em diversas operações financeiras, como:

  • Financiamentos de eletrodomésticos

  • Empréstimos pessoais e consignados

  • Uso de cartão de crédito, especialmente internacional

  • Seguros e operações de câmbio

Na prática, isso significa que o empréstimo feito por uma diarista, o carnê de uma geladeira comprada a prazo ou o seguro obrigatório de um motoboy autônomo ficam mais caros.

Por outro lado, o governo promete reverter parte da arrecadação extra em políticas sociais. Programas como o Bolsa Família, o Pé-de-Meia (poupança para estudantes do ensino médio público) e obras de infraestrutura em áreas carentes devem ser fortalecidos com o caixa mais cheio.

Economistas alertam, no entanto, que esses repasses não são automáticos. Sem uma regra clara de vinculação, o aumento da arrecadação pode não chegar diretamente à população mais pobre.

“A alta do IOF tem impacto regressivo. É importante que o governo compense isso com políticas públicas direcionadas”, analisa a socióloga Maria Elisa Mendonça, da USP.

* Vicente Barone é analista político, editor chefe do Grupo @HORA de Comunicação, esteve à frente de diversas campanhas eleitorais como consultor político e de marketing, foi executivo de marketing em empresas nacionais e multinacionais, palestrante nacional e internacional para temas de marketing social, cultural, esportivo e de trasnporte coletivo, além de ministrar aulas como professor na área para 3º e 4º graus - www.barone.adm.br

* Com informações:

Fontes da matéria principal

  1. Receita Federal do Brasil

    • Boletim Mensal de Arrecadação Federal – Junho de 2025

    • Disponível em: https://www.gov.br/receitafederal

    • Dados oficiais da arrecadação tributária por tributo e por mês.

  2. Supremo Tribunal Federal (STF)

    • Decisão do ministro Alexandre de Moraes sobre validade do decreto presidencial sobre IOF

    • Acompanhamento processual em: https://portal.stf.jus.br/

  3. Ministério da Fazenda

    • Projeções de arrecadação e medidas fiscais para 2025 – Notas técnicas do gabinete de Fernando Haddad

    • Disponível em: https://www.gov.br/fazenda

  4. Instituto Brasileiro de Economia da FGV (IBRE/FGV)

    • Análises de conjuntura econômica e comentários de especialistas sobre impacto tributário

    • Acesso: https://ibre.fgv.br

  5. Banco Central do Brasil

  6. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)


Fontes do box especial “E o povo, como fica?”

  1. Pesquisa “Tributação e Pobreza no Brasil” – USP/Fipecafi (2024)

    • Estudo aponta os impactos regressivos de tributos como o IOF sobre a população mais vulnerável.

  2. Relatório do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc)

  3. Entrevista com a socióloga Maria Elisa Mendonça – Universidade de São Paulo (USP)

    • Declaração baseada em análise concedida ao portal Carta Capital (junho/2025)

  4. Dados do programa Bolsa Família e Pé-de-Meia

    • Informações atualizadas pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social

    • Portal: https://www.gov.br/mds

  5. Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste)

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