O Nobel da Paz anunciado nesta sexta-feira confirmou a importância que o meio ambiente ganhou para o mundo nos últimos anos. O alerta para a emergência global do tema veio do ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) - que inclui pesquisadores brasileiros, quatro deles do Rio de Janeiro -, vencedores do prêmio. O título já foi concedido pela ONU a ativistas de direitos humanos, pesquisadores e economistas, entre outros. O alarme soou também no Rio.
O prêmio de US$ 1,5 milhão (R$ 2,8 milhões) vai ser dividido entre Gore, que prometeu doar sua fatia, e o IPCC, que tem 2,5 mil cientistas. Eles bateram 181 concorrentes. "Estou profundamente honrado", disse o americano, ganhador do Oscar de melhor documentário este ano com "Uma verdade inconveniente", sobre mudanças climáticas.
Famoso por suas belezas naturais, o Rio se vê ameaçado por vários problemas ambientais, que só se agravam. Paisagens que inspiraram canções são hoje o reflexo do descaso com o tema. "Aqui o peixe que mais dá é o peixe-Carrefour", brincou o gerente de transporte Ettore Lopes, 32 anos, que pesca na Baía de Guanabara, referindo-se a sacos plásticos de supermercados.
Alvo de programa de despoluição, o PDBG, desde o início dos anos 90, a Baía enfrenta problemas de poluição por esgoto, despejo de óleo e lixo. "No ritmo que a obra anda, a despoluição completa levará uns 50 anos", calcula o superintendente do Ibama no Rio, Rogério Rocco. Segundo ele, os R$ 800 milhões previstos de gastos já passam de R$ 1 bilhão.
1,5 milhão sem esgoto
Diretamente ligado à poluição das águas do Rio, o saneamento básico ainda é um problema no estado. Mais de 1,5 milhão de fluminenses não são atendidos por rede de esgoto, segundo dados do IBGE. Mesmo quem já tem a rede coletora e mora em bairros nobres acaba despejando esgoto no mar, pois muitos condomínios de luxo da Barra ainda não foram conectados ao emissário.
O secretário estadual de Ambiente, Carlos Minc, aponta a favelização como um dos fatores responsáveis pela degradação do ecossistema: "ano que vem, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento, esperamos investir R$ 200 milhões só na Baixada". A verba será aplicada em obras de saneamento nas comunidades carentes da região.
Carros poluentes serão barrados em 2008
Apontado como um dos principais fatores poluentes do ar no Rio, a emissão de gases de veículos será controlada com rigor a partir de 2008. Se o motorista não for ecologicamente correto o suficiente para manter seu carro dentro dos níveis de emissão aceitáveis, o Detran-RJ fará esse papel. Veículos poluidores serão reprovados na vistoria anual. Hoje, a medição já é feita, mas só tem caráter informativo.
Para a secretária municipal de Meio Ambiente, Rosa Fernandes, a falta de opções de transporte coletivo menos poluente, como o metrô, é um agravante. Mas são as contribuições individuais que podem fazer a diferença.Além do despejo de lixo em locais impróprios, o vandalismo prejudica o programa de plantio de árvores na cidade. Cerca de 70% das mudas plantadas são destruídas propositalmente, segundo a secretaria. "Por isso aumentamos a quantidade de mudas", explicou Rosa. E projetos para conscientizar a população estão sendo desenvolvidos.
"A reciclagem já ajuda"
Os brasileiros que participaram dos relatórios do IPCC são de quatro instituições: Fiocruz, USP, Inpe e Coppe. Entre eles está uma carioca que coordenou capítulo-chave, sugerindo mudanças nos transportes. Suzana Kahn Ribeiro, da Engenharia de Transportes da Coppe-UFRJ, espera que o Nobel ajude a diminuir não só emissões de carbono, mas também dificuldades dos pesquisadores do País.
Como você recebeu a notícia de que o IPCC venceu o Nobel da paz?
Um colega ouviu no rádio e ligou brincando que ganhei 1/12 mil avos do Nobel da Paz, mas não sei detalhes da premiação.
Qual vai ser o impacto dessa vitória?
O Nobel e qualquer publicidade em torno da mudança climática, inclusive o filme do Al Gore, independente do mérito científico, são muito positivos. Isso força a população a pressionar os governos por mudanças nas políticas públicas.
Você acha que o prêmio pode atrair investimentos em pesquisas?
Pode gerar mais apoio da iniciativa privada e do governo para os cientistas. O trabalho para o IPCC, por exemplo, é voluntário. Encontramos dificuldades para fazer referências a países subdesenvolvidos: há pouca coisa publicada.
Em que consiste sua parte na pesquisa?
Coordenei capítulo sobre como diminuir o efeito dos transportes - um dos setores com maior emissão de gases estufa e muito dependente do petróleo - no aquecimento global.
O que se pode fazer individualmente para diminuir o aquecimento?
Qualquer coisa para reduzir o consumo, como reciclagem e diminuição no consumo de água, já ajuda.
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