A grande lição a tirar do modestíssimo desempenho brasileiro nas Olimpíadas da Grécia é a de que certos erros se repetem, de geração a geração, sem que ninguém se sinta culpado por eles. Tudo bem que alguns dos nossos atletas brilharam individualmente, ou em duplas, trazendo medalhas de ouro, prata ou bronze, conquistadas em terra e no mar. E que em certas modalidades coletivas, como o futebol feminino, o voleibol e o basquetebol, nossos atletas tiveram seus momentos de glória, com destaque para as mulheres. Mas, estamos nos referindo ao desempenho conjunto da equipe brasileira, a maior já mandada àquela competição. Tão numerosa e bem vestida, que se houvesse prêmios também para os vencedores do desfile de abertura dos Jogos, certamente ganharíamos uma medalha. Mas, ela ficaria por conta do nosso progresso no campo da moda, e não dos esportes.
Quanto aos jogos propriamente ditos, parece lamentável que não tenhamos sequer repetido certas constantes de outros tempos, em que gênios individuais assombraram o mundo nas pistas de atletismo, como ocorreu com Ademar Ferreira da Silva, no salto triplo, para citar apenas um dos vários campeões brasileiros num passado ainda recente.
Não se pode culpar pelo pequeno e esporádico brilho dos nossos competidores, nos Jogos de Atenas, a equipe organizadora, muito menos os patrocinadores de atletas ou das transmissões via satélite. O que procuramos dizer, ao falar de início em "lição a tirar" do baixo desempenho coletivo, é que a preparação de uma equipe demanda tempo, pelo menos quatro anos de programação. O exemplo da China é elucidativo: nunca havia aparecido como grande potência esportiva, e até se dizia, em tom de blague, que só era temida por seus jogadores de ping-pong. Bastou que fosse aceita como sede das Olimpíadas de 2008, para que realizasse um esforço impressionante que resultou na excelente apresentação de seus atletas, na Grécia. O resultado desse esforço todo o mundo viu: disputou a primazia dos jogos com os Estados Unidos, a grande potência olímpica, que depois do desaparecimento da URSS parecia a muitos não ter rival no conjunto de esportes reconhecidos pelo Comitê Olímpico Internacional.
O que sugerimos, então? Que a partir de hoje, ou logo que terminar a série de homenagens aos poucos atletas brasileiros que bateram recordes (nacional ou sul-americano) ou conseguiram medalhas, juntem-se em torno de uma mesa todos os responsáveis pela nossa apresentação, para organizar um plano global com vistas às próximas olimpíadas. Não se deixe, mais uma vez, para pensar no assunto apenas às vésperas da viagem, quando será oportuno então tratar de novos fardamentos vistosos, escolha de locais para hospedagem e outras providências semelhantes. Ao contrário disso, o treinamento a nível nacional, em escolas, quartéis, centros comunitários das capitais e sobretudo no interior mais carente, deve começar cedo, com muita antecedência. E se os frutos de um trabalho planejado não se fizerem sentir completamente daqui a quatro anos, já estaremos nos preparando para as olimpíadas seguintes.
Certamente, haverá quem lembre como é dispendioso treinar crianças e jovens em todos os quadrantes da pátria, num País diversificado como o nosso. Mas, ninguém se iluda: nada sai mais caro (e improdutivo) do que a improvisação. Se todas as empresas, inclusive as multinacionais, que apostaram as suas fichas na vitória das cores verde, amarelo, azul e branco, continuarem investindo na formação de nossos atletas, certamente será bem maior o número de medalhas a serem conquistadas pelo Brasil nas próximas Olimpíadas da China, em 2008.
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