Golpe militar destitui Mohamed Mursi e suspende Constituição do Egito
Da Redação com agências
Foto(s): Divulgação / Arquivo
Projeção em um prédio junto à praça Tahrir anuncia o fim do governo de Mursi: "game over"
Mohamed Mursi não é mais o presidente do Egito. O general das Forças Armadas do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, disse nesta quarta-feira, em rede nacional de TV, que o líder islamita não respondeu aos anseios da população e o exército sentiu a necessidade de servir ao povo, afirmando que os militares não "podiam ficar em silêncio" diante do que acontecia no país. Em seguida, anunciou que a Constituição do país está suspensa e que em breve serão convocadas eleições gerais. Enquanto isso, o presidente do Tribunal Constitucional Supremo assumirá provisoriamente a presidência.
General Sisi fala à nação em rede nacional de TVFoto: AFP
"As Forças Armadas consideram que o povo do Egito está nos pedindo apoio, não para tomar o poder ou governar, mas servir ao interesse público e proteger a revolução. Essa é a mensagem que os militares receberam de todos os cantos do Egito", afirmou Sisi.
Logo após o pronunciamento, Mursi, disse, em seu perfil no Facebook, que as "medidas anunciadas pelas Forças Armadas representam um golpe militar rejeitado por todos os homens livres da nação". No Twitter oficial da presidência, o líder deposto pediu que os egípcios não aceitem o golpe, mas que resistam pacificamente para evitar o derramamento de sangue.
Logo após o anúncio, as milhares de pessoas reunidas na praça Tahrir - símbolo da revolução de 2011 que derrubou a ditadura de Hosni Mubarak - explodiram em festa. Fogos de artifício iluminaram o céu no centro do Cairo e em toda a capital egípcia. "O povo e o Exército estão do mesmo lado", gritaram os manifestantes na praça, em meio ao barulho das buzinas e cânticos, segundo uma testemunha ouvida pela agência Reuters.
No bairro de Nasr City, onde milhares de partidários de Mursi o apoiavam, reinou o silêncio. Informações dão conta de que soldados e veículos militares cercavam o local para evitar enfrentamentos com manifestantes opositores, reunidos principalmente na praça Tahrir. Em comunicado, o exército disse que não toleraria a violência. O canal de TV da Irmandade Muçulmana, grupo do ex-presidente, saiu do ar após o pronunciamento do general.
Reuniões e tensão antes do pronunciamento
O general Sisi falou ao país depois de se reunir com o xeque da instituição islâmica de Al-Azhar, Ahmed al Tayyip, o papa copta, Teodoro II, o representante da oposição e vencedor do prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, e jovens do movimento Tamarrud. O plano para tirar o Egito da crise inclui passos para administrar o país durante uma breve etapa interina, que será seguida por eleições.
Um pouco antes do anúncio, um assessor direto do presidente havia dito que o país estava vivendo um golpe militar, e que isso precisava ficar claro para a história do Egito. Mursi, por sua vez, resistiu até o final. No final da tarde (horário local), lançou sua última cartada ao propor um governo de coalizão ao mesmo tempo em que denunciou a falta de diálogo da oposição. Quando sua queda era iminente, disse que não aceitaria uma renúncia humilhante.
Ontem, em um discurso televisionado, Mursi defendeu ontem sua legitimidade democrática e pediu ao exército que retirasse seu ultimato. O presidente pediu aos egípcios para se afastarem dos remanescentes do anterior regime de Hosni Mubarak e evitar o derramamento de sangue entre eles, e afirmou estar disposto a sacrificar sua vida pelo país.