Um estudo baseado em dados do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento do Ministério das Cidades divulgado quinta-feira mostra que menos da metade da população brasileira (49,44%) tem rede de esgoto, ou seja, acesso ao saneamento básico. Por outro lado, a pesquisa, realizada em parceria entre o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas e a organização não-governamental Trata Brasil, utilizando também dados da Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (Pnad) de 2007, mostra que o percentual de pessoas que tem saneamento é muito inferior ao das que têm rede de água encanada (81,11%), lixo coletado (86,79%) e acesso a eletricidade (98,18%).
"O problema de saneamento é um verdadeiro buraco para o Brasil, e o país não consegue resolver", avaliou o pesquisador Marcelo Néri, chefe do Centro de Políticas Sociais, vinculado ao Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV.
Segundo o pesquisador, a questão do saneamento básico deveria ser uma das prioridades em políticas públicas, já que a sua ausência traz muitos impactos negativos na vida das pessoas. "A falta de saneamento implica pior desenvolvimento humano em todas as dimensões, em particular na saúde. A falta de saneamento rouba a vida e mata crianças, principalmente de um a seis anos de idade, e também gera consequências futuras para aqueles que sobrevivem às doenças da falta de saneamento adequado", disse.
Néri destaca que o estudo mostra inclusive que as pessoas afetadas pela falta de saneamento sofrem redução na altura e apresentam um índice de massa corporal até dois centímetros menor que a população em geral.
"A falta de saneamento inibe o desenvolvimento físico e intelectual das pessoas", disse o pesquisador, para quem o problema da falta de saneamento será resolvido somente com vontade política e mobilização social. "Não é só dinheiro. Dinheiro é importante, mas, fundamentalmente, é gestão. E, para isso, a população tem de estar conscientizada. Tem de perceber que a falta de saneamento não é só o cheiro, não é só a coceira. É doença", disse.
A pesquisa revelou também que, entre 79 cidades brasileiras com mais de 300 mil habitantes, Franca, no interior de São Paulo, é a que oferece à população o melhor serviço de saneamento básico disponível. Sete das dez cidades que apresentaram os melhores números no atendimento de saneamento para sua população ficam em São Paulo. Por ordem, as dez primeiras colocadas são Franca (SP), Uberlândia (MG), Sorocaba (SP), Santos (SP), Jundiaí (SP), Niterói (RJ), Maringá (PR), Santo André (SP), Mogi das Cruzes (SP) e Piracicaba (SP). A capital melhor colocada no ranking é Curitiba (PR), no 11º lugar. São Paulo aparece na 21ª colocação e o Rio de Janeiro na 36ª.
Entre as cidades com piores serviços de saneamento básico, quatro estão localizadas no Estado do Rio de Janeiro: São Gonçalo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São João de Meriti. Também fazem parte da lista as capitais de Rondônia (Porto Velho), do Pará (Belém) e do Amapá (Macapá), além das cidades de Cariacica, no Espírito Santo, Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, e Canoas, no Rio Grande do Sul.
Na escola
Outro dado alarmante revelado pelo estudo é o de que apenas 39,27% das mais de 198 mil escolas do Brasil têm rede de esgoto sanitário nas 79 cidades brasileiras estudadas.
"O saneamento é o esgoto das estatísticas sociais. E isso traz consequências sérias para o país, com pessoas que deixam de trabalhar, crianças que perdem aula, crianças que morrem", destacou o pesquisador. De acordo com o levantamento, 7,28% das pessoas que não têm rede de coleta de esgoto perderam dias de trabalho nas duas últimas semanas por motivo de doença que pode estar associada à ausência do serviço.