O cargo de reitor em uma universidade carrega a responsabilidade máxima pela condução institucional, cabendo-lhe administrar, representar, planejar e articular todas as ações acadêmicas, administrativas e sociais. O compromisso deve ser com a excelência, a ética, a transparência e o interesse público. O reitor é também o mediador de diferentes interesses da comunidade interna, promovendo o diálogo entre docentes, técnicos, estudantes e sociedade, sem jamais privilegiar grupos ou preferências pessoais.
No âmbito das decisões públicas, o reitor de uma instituição do ensino superior deve manter postura isenta e orientada pelo respeito à pluralidade. Seu posicionamento não deve ser pautado por vínculos partidários, tampouco expresso através de manifestações de crença religiosa durante o exercício da gestão institucional. Cabe ao reitor assegurar a defesa da autonomia universitária, da liberdade científica e do contraditório acadêmico, evitando direcionar a instituição a partir de visões ideológicas ou particulares.
O líder universitário pode, sim, ser agente de defesa da educação pública, dos princípios democráticos e do acesso aberto ao saber, mas sem adotar posturas que comprometam a neutralidade e a pluralidade do ambiente. Tomadas de posição partidária ou religiosa, ao serem expressas como orientação à gestão, configuram risco à democracia interna e à missão social da universidade, que é garantir espaço amplo para o debate e o confronto civilizado de ideias.
A real posição do reitor deve ser sempre em defesa da integridade institucional, do interesse coletivo e da valorização da sociedade plural. É fundamental que o dirigente universitário tenha consciência de que sua função não é a de representar interesses privados, grupos ideológicos, nem tampouco a promoção de doutrina religiosa. Seu papel é garantir o funcionamento harmônico e democrático da universidade, construir pontes com os diferentes setores sociais e assegurar que o ensino superior seja, de fato, um espaço aberto e acolhedor a todas as ideias e campos do saber.
No caso específico da Unicamp e do reitor Paulo Cesar Montagner, a situação revela um cenário de polarização que desafia os limites do papel legítimo da reitoria. A decisão de adotar posições políticas explícitas, como o rompimento de convênios com instituições estrangeiras e a defesa pública de políticas afirmativas controversas, expõe a universidade a críticas e tensões internas e externas que, ao longo do tempo, podem prejudicar seu ambiente plural e democrático.
Ataques provenientes de setores políticos conservadores e a reação da comunidade acadêmica mostram que o reitor, ao assumir um perfil fortemente político, corre o risco de transformar a universidade em palco de disputas ideológicas, esvaziando seu papel de mediador neutro e comprometido com o interesse coletivo.
Essa postura pode limitar o diálogo e comprometer a coesão interna, fragilizando a missão maior da universidade de promover a produção científica e a formação crítica sem interferências partidárias.
(*) Com informações das fontes: Politize, IFSC, Empregare, Câmara dos Deputados, Scielo, Universidade Brasil.
* Vicente Barone é analista político, editor chefe do Grupo @HORA de Comunicação, esteve à frente de diversas campanhas eleitorais como consultor político e de marketing, foi executivo de marketing em empresas nacionais e multinacionais, palestrante nacional e internacional para temas de marketing social, cultural, esportivo e de trasnporte coletivo, além de ministrar aulas como professor na área para 3º e 4º graus - www.barone.adm.br